Loja de sapatos
Cumprimento, boa noite
Simpatia, encoraja
Inspira, expira, é só uma olhadinha e qualquer coisa é só chamar
De um lado para o outro, de lá para cá, que ninguém note
O brilho nos olhos, impossível negar
O encanto, puro, entretanto não parecia certo
Carpete bege, macio, prateleiras cheias, verão
Mulheres, casais, famílias, iam e vinham
Com mãos muito carregadas de sacolas
Ou vazias
Simpatia, ossos do ofício
Um mundo paralelo, isolado no fone de ouvido
Inspira, expira. Um, dois, três
Um movimento de mão, o mundo a parte se desfaz
“Por favor”, acena
Simpatia, muito bem-vinda
Um par de sapatos, melhor dois, no tamanho quarenta
Inspira, expira. Um momento
Senta-se, observa, um lugar ao fundo, é melhor
Por sorte, em frente ao espelho do chão ao teto
Simpatia, retorna
Salto alto, grosso, vermelho, verniz
Salto alto, fino, prata, matiz
Descalça, calça, calça, descalça
Pé direito, pé esquerdo
Levanta, anda, para, observa, senta e repete
Reflexo, o que vê no espelho?
Dez centímetros mais alto, enquanto posa
E coça
A própria barba
Reflete, o que vê dentro de si?
Reflita, o que você veria dentro de ti?